O circo da noite – Erin Morgenstern
O circo chega sem aviso.
Junto com toda a cidade, você se dirige ao campo que antes estava vazio. A noite está agradável, o burburinho da multidão enche o ar conforme a fila da bilheteria se forma.
Observe o grande relógio preto e branco e suas peças móveis. Se perca por entre as tendas listradas. Vá à cartomante, veja o espetáculo da ilusionista, caminhe pelo labirinto. Se delicie com o chocolate e a pipoca dos quiosques de comida. Se esquente junto da fogueira de chamas prateadas. Veja o inimaginável e não procure explicações. Nesta noite, a magia é real. O circo é perfeito.
Aproveite. Aproveite esta noite de ilusões. O circo chega sem aviso. Vai embora sem aviso.
Quando o dia chega, só lhe resta sonhar.
O circo da noite não prometeu nada e entregou tudo. Não prometeu nada porque eu simplesmente não sabia nada dele antes, apesar de ver a Morro Branco surtando no Instagram. A autora eu conhecia de nome, porque eu fico namorando The Starless Sea na livraria lá em Galway. Então sim, esse livro foi uma compra por impulso na Bienal, e Deus do céu, eu não me arrependo.
Vamos começar com essa edição perrrrfeita? É o primeiro livro da Morro Branco que eu leio, e só tenho que aplaudir. Eu curti muito a tradução, acho que contei só uns três erros de digitação. A diagramação é ótima pra minha miopia. E gente, essa capa dura sensacional? Muito, muito bem feita. Eu adorei a textura do papel também, mas coloquei o livro numa capinha pra proteger, porque achei que ele poderia arranhar (e também queria estrear a capinha). A ilustração da capa e as poucas que estão no texto (mais detalhezinhos nas aberturas das diferentes partes) são perrrrfeitas também (alerta: talvez eu diga “perfeitas” vezes demais nessa resenha).
Eu não consigo acreditar que esse é o romance de estreia de Erin Morgenstern. Porque ele é simplesmente bem escrito demais para isso. Ele é imersivo até a última potência, com capítulos em segunda pessoa, a narração no presente que eu simplesmente amo, e as descrições vívidas do ambiente, que é extremamente importante. As falas podem não ser muito exatas, historicamente falando (não sei, só li a tradução), mas ainda te envolvem naquele mundo do final do século XIX e início do século XX. Erin Morgenstern consegue transformar o seu leitor em um visitante do Cirque des Rêves, e te puxa para acompanhar sua jornada como ninguém mais.
A verdade é que O circo da noite não é sobre uma história de amor. Não é sobre uma competição. Ele é um livro sobre seus personagens, e o mais importante de todos eles é o circo. Eu queria fazer Letras só pra fazer um TCC sobre isso. E ter a base técnica pra poder argumentar. Como eu não tenho, vocês vão ter que acreditar em mim – o circo é um personagem, e eu acho que ele é o mais importante. É uma história que você tem que se atentar para as datas nos começos dos capítulos, porque elas ajudam bastante. É difícil pra mim falar muito sem dar spoiler, mas esse é um livro com uma trama bem desenvolvida, envolvente, e muito difícil de achar defeito. Se eu tivesse, diria que não gostei tanto do final de Celia e Marco. Os vários personagens têm cada um seu próprio charme, e foram muito bem criados.
Em resumo, O circo da noite é um sucesso temático, estilístico, e técnico. É uma história imersiva com personagens interessantes, que são tão profundos que quase parecem gente (lembre-se: personagem não é gente). Este é um livro que eu quero revisitar muitas vezes, para um dia criar uma obra como essa.
Se você gostou de O circo da noite, de Erin Morgenstern, você via gostar de:
His Dark Materials – Philip Pullman;
The Binding – Bridget Collins;
Parthenon Místico – Enéias Tavares.
;)
