Godkiller – Hannah Kaner ?>

Godkiller – Hannah Kaner

Em um mundo em que deuses são tão comuns quanto qualquer animal, bençãos e maldições são coisas comuns para se pedir. Todos buscam cair nas graças de um deus poderoso e assim prosperar. Mas depois de anos, séculos de controle sobre os cidadãos, um único rei se rebela contra os caprichos de seres poderosos demais para serem tão inconstantes e lança o mundo em caos.

Kissen é um produto da guerra. Uma Assassina de Deuses oficial, com ódio profundo pelos deuses, responsáveis por tudo o que já aconteceu de ruim com ela – incluindo a morte da sua família. Para ela, mesmo o amor de um deus não é o suficiente para salvar ninguém. No mundo depois da guerra contra os deuses, ela tem muita oportunidade para extravasar.

Elogast já foi o melhor amigo do rei rebelde, mas a guerra impactou tanto a sua mente que ele deixou tudo de lado e virou padeiro. No mundo pós-guerra, ele tenta lidar com as memórias, mas já não há mais deuses para ajudá-lo.

Ambos vão acabar em uma jornada para longe, envolvidos com uma garotinha que está presa a um deus, e que foge de um inimigo desconhecido na direção da única cidade que ainda tem deuses que podem ajudá-la a separar a sua vida da do deus. Mas se o que todos eles têm em comum é que nenhum deles pode saber dos seus reais objetivos.


Primeiro, deixo aqui minha indignação em descobrir que Godkiller é uma série e não um livro único. Com certeza não tenho intenção nenhuma de continuar a ler os próximos conforme eles saírem. Eu tenho certeza que esse livro vai acabar no Brasil e, se você tá em busca de só uma fantasia, sem se importar muito com qualidade, acho que vai gostar.

A autora tenta nos mostrar um mundo devastado por uma guerra e por tensão, mas não nos dá nada pra comparar num antes e depois. Eu não sei como essa terra era antes, então pra mim parece que tá igual. Eu não acho os deuses tão fortes assim, porque o livro inteiro é sobre como eles foram derrotados, como eles estão desesperados por oferendas, como eles são sempre superados. Ou seja, nada ameaçadores ou amedrontadores, como os personagens tanto dizem. A construção de mundo, assim, acabou comigo, porque eu vi que a autora simplesmente não tinha a habilidade de nos mostrar o que queria. Esse mundo tinha tanto potencial, mas eu passei por ele sem nem me emocionar muito com o estado das coisas.

Os personagens são cookie-cutter de prompt de personagem: a assassina (vi muito a Celaena aqui), o guerreiro, e a menininha que vai se tornar/é e não sabe que é a Escolhida. Eles não saem muito disso. O que tenho pra falar bem é que o múltiplo POV da história foi muito bem feito. Eu consigo ver claramente a diferença entre os personagens pela narrativa, ainda que seja tudo em terceira pessoa. Meu favorito na história toda foi o Skediceth, e acho que ela poderia ter feito algo muito mais com ele e com a falta de confiança que tanto os personagens quanto o leitor poderia ter nele. Mas vou dar um crédito aqui: Kaner insere personagens LGBT na sua história com muita naturalidade, e eu gosto muito de fantasias que tratam personagens queer como outras tratam personagens hétero – com a maior naturalidade do mundo. Ninguém questiona ou comenta sobre a orientação sexual dos outros no livro, e eu realmente amei isso – uma verdadeira prova do que a literatura lentamente caminha para se tornar. Outra coisa que eu gostei muito dos personagens que são pessoas com deficiência (muitos deles os principais) e isso também é tratado com muita naturalidade. Não vou me estender muito no assunto porque não só não é meu lugar de fala, como também não li quase nenhum livro (com certeza, nenhum que me venha à mente) que trate esse tema desse jeito refrescante de Godkiller.

O pacing de Godkiller, por fim, foi um grande erro também. Porque nada acontece. É um livro curto, de 300 páginas, no qual uns dois terços é só os personagens em uma viagem, tentando chegar na cidade que eles precisam ir, e nada do que se passa durante isso é importante pra trama. Não temos grandes investigações sobre coisas que aconteceram (que foram o que impulsionaram os personagens à jornada). Os leitores sabem de algumas coisas que criam questionamentos porque o narrador dá a letra, mas os personagens não pensam mais sobre aquilo e não recebemos mais nada até muito depois, e são duas páginas deles falando sobre isso. Até o plot twist do final é comentado e aceito em poucas páginas, e fica por isso mesmo.

Em resumo, Godkiller é um livro bom pra quem só quer ler uma fantasia sem pensar mais fundo, e que não vai se importar não com furos na narrativa, mas uma que quer tanto esconder o plot twist que não te entrega absolutamente nada até ele, o que tira muito o efeito que ele tanto queria ter. Fiquei entediada lendo e, apesar de saber que é o primeiro livro da autora, não me cativou o suficiente pra gastar meu dinheiro com os próximos (ainda que essa edição em capa dura que eu tenho seja linda de morrer).

Se você gostou de Godkiller, de Hannah Kaner, você vai gostar de:

Trono de Vidro – Sarah J. Maas;

The Priory of the Orange Tree – Samantha Shannon;

Ordem Vermelha: Filhos da Degradação – Felipe Castilho.

Comments are closed.