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Suicidas – Raphael Montes

Jovens ricos podem começar brincadeiras que não fazem sentido. A elite vive em outro mundo. A elite vive entediada. E é assim que nove cariocas acabam todos mortos em um jogo de roleta-russa que deixou seus pais, a polícia, e o Brasil inteiro, em confusão.

Um ano depois, novas provas ressurgem e forçam a delegada Diana a chamar todas as mães de volta a delegacia e relembrar a história. As anotações de Alessandro, um dos suicidas, são vitais para que todos ali finalmente entendam o que se passou naquele dia.

Mas seria a verdade realmente a melhor coisa a vir à tona?


Suicidas foi meu primeiro contato com Raphael Montes e não foi à toa que o livro entrou no 8º lugar do top 10 de 2022. De bônus, conheci o bonito na Bienal de SP (no evento que fui para ver nossa senhora Ana Paula Maia), e ele é muito fofo. Meses depois, passando minha temporada na terra de meus ancestrais Rio de Janeiro, encontrei com ele e o namorido Victor no calçadão de Ipanema.

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(meu Suicidas está autografado, só que quem entrou na fila foi a minha mãe)

Essa edição de Suicidas é super bonitinha, porque a Cia sempre faz um bom trabalho. Mas gente, por que eles têm que fazer o livro tão pesado? É meio besta isso, mas ele não é tão grande pra pesar tanto. Mas de resto, existem várias mídias diferentes no livro, e a impressão é perfeita.

Eu fiquei muito surpresa com a escrita do Raphael. Eu não estava esperando ficar tão obcecada e acabar com um livro de 400 páginas praticamente de uma vez só (li voltando pra Irlanda). Tem várias mídias diferentes no livro: gravações, diários, documentos, etc, o que é uma coisa que eu sempre gosto. E o meu favorito é que ele insere um aviso de gatilho sem parecer um aviso de gatilho. Vocês sabem que eu não gosto desse papo que a comunidade literária da internet tem de obrigar absolutamente todo mundo a fazer uma lista de gatilhos de tudo o que você lê. Raphael Montes, antes de um capítulo com temas particularmente pesados, faz a delegada avisar as mães que o próximo capítulo do diário que elas vão ler é pesado, e quem quiser pode sair da sala. E assim, o leitor pode pular o capítulo e, no seguinte, que volta para as mães, há um resumo de duas frases do que aconteceu. E pronto. Isso é habilidade. E sinto muito, mas você está errado se quer ler Raphael Montes e reclama de gatilhos. Na bienal, uma menina comentou que vomitou lendo Suicidas. E eu entendo ela.

Todos os personagens são babacas aqui, tá? Vemos a elite sendo babaca e completamente fora de realidade, tanto os filhos quanto as mães. Claro, alguns são piores do que outros, e eu tive dificuldade em alguns momentos lendo o diário do Alessandro, porque ele tenta agir como melhor do que seus amigos ricos, mas é cada comentário que ele faz (me lembra muito um outro narrador por aí)… Não se enganem, ninguém presta. Eu lembro de uma história há um tempo que estavam querendo cancelar o Raphael Montes porque os livros dele eram gordofóbicos ou algo do tipo. Eu, que não lia o menino, não prestei atenção. Mas acho que muito dessa polêmica é gente que não entende construção de personagem e não sabe o que é o narrador e o autor. Suicidas foi, até agora, minha única experiência com o autor, e há vários comentários gordofóbicos nesse livro, mas são feitos pelos personagens lixo. Mas nunca mais vi mais nada dessa polêmica, então imagino que tenha sido só uma coisa momentânea de alguém que entendeu como as coisas funcionam mais tarde.

Em resumo, a história é pesada, beleza? Não espere ler um livro chamado Suicidas, com a história ao redor de um suicídio em massa em um jogo de roleta russa, e ficar de boas. É pesado, traz temas pesados, e acho que não é pra todo mundo. Mesmo se eu tivesse lido esse livro alguns anos atrás, eu tenho certeza de que eu ficaria muito desconfortável. Mas se você quer um livro com uma técnica im-pe-cá-vel, que traz discussões sobre a sociedade brasileira, e que é imprevisível, Suicidas é pra você. E eu nem falei dos plot twists! Já digo que eu não consegui prever a maioria do que aconteceria na história, e aquele final me deixou doida.

Raphael Montes é esquema de pirâmide, tá? Você começa a ler e não quer mais parar.

Se você gostou de Suicidas, de Raphael Montes, você vai gostar de:

Serpentário – Felipe Castilho;

Saboroso cadáver – Agustina Bazterrica;

Eu estou pensando em acabar com tudo – Iain Reid.

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