Os livros da Selva – Rudyard Kipling ?>

Os livros da Selva – Rudyard Kipling

A Selva é um lugar perigoso. Panteras, tigres, cobras e ursos, vivendo entre as árvores e caçando. Caçando o que lhes apetecer para saciar a fome.

Mas um dia a caça ganha uma reviravolta. Um filhote de humano entra na toca de uma loba com seus filhotes. O humano é a caça de Shere Khan, o tigre. Apesar disso, Mãe Loba e Pai Lobo protegem o bebê como se fosse deles.

E esse bebê é Mowgli, a rã (um apelido dado carinhosamente a Mowgli por sua família de lobos).

Enquanto cresce no meio dos animais, Mowgli aprende a Lei da Selva. O conjunto de leis que ele não pode, sob hipótese alguma, desobedecer. Ele também aprende a língua de alguns animais, como as cobras e os pássaros.

Mas Mowgli não está a salvo.

Shere Khan, o tigre que tentou matá-lo quando era pequeno, ainda não se esqueceu. Ele está atrás de Mowgli. E está com fome.

Será o uivo do lobo mais alto que o rugido do tigre?

A caça vai ter que virar o caçador.

A rã vai ter que derrotar o tigre.


Os livros da Selva é um dos melhores livros que eu já li na vida. São contos de bichinhos. Tem coisa melhor que bichinhos? Não, não tem.

Vamos começar pela edição. Eu adoro a coleção de Clássicos da Zahar, que colocam um monte de textos inéditos (ou, no mínimo, que não estão no livro original). Além, é claro, das ilustrações MA-RA-VI-LHO-SAS. Sem comentários sobre a capa, não é mesmo? O desenho maravilhoso e capa dura? Só amor!

Agora, um pouco sobre o autor e a escrita. O Kipling é indiano de nascença, mas um pseudo-inglês em quase todo o resto. Ele retrata a Índia nos contos, o que mostra que ele não esqueceu seu país natal. O que é ótimo, porque a selva indiana é, realmente, um lugar fascinante. A escrita é muito fluida e gostosa, o que realmente me surpreendeu. Achei que ele ia ter um palavreado arcaico e maçante, mas é tão fácil de entender quanto um autor atual – talvez sem as expressões de hoje em dia, mas conseguimos viver sem elas em um livro (as notas da editora também ajudam bastante, já que Kipling usa algumas palavras e expressões indianas na escrita, que são explicadas nas notas de rodapé).

Agora, foquemos na história.

De novo, são contos de bichinhos. O fato do livro ser de contos ajuda bastante quando você quiser parar e não consegue. Eram duas da manhã e eu não queria parar de ler, então disse a mim mesma: “quando acabar esse conto, vou dormir.” Funciona, eu juro. Acabar o conto corta toda a ansiedade da leitura, mas dá uma satisfação ao se lembrar que não, o livro não acabou (maaaas quando o livro acaba é complicado, você se sente muito órfão).

Todas as personagens são ridiculamente bem criadas. Como são bichos, você pode imaginar que ficaram meio falhos, afinal, não sabemos o que se passa na mente deles. Ledo engano, caro leitor. As personalidades são ótimas. Eles têm algo como uma “personalidade coletiva”, ou seja, as espécies se aproximam não só na anatomia, mas também no jeito de pensar (quero, um dia, poder construir personagens tão bem quanto esse cara).

Dos quinze contos do livro (Os livros da Selva são, originalmente, dois volumes; a Zahar fez o favor de juntar os dois, assim como fez com Alice), o Mowgli é o protagonista de oito. Os outros sete contam histórias de outros animais, o que não deixa de ser fascinante.

Eu não entendo como o Mowgli sequer cogita morar com os humanos (ele volta para a selva, mas fica um tempo com os humanos). Nem me venham com esse blá blá blá de “ah, ele quer saber as origens dele” ou “ele se sente solitário/segregado por ser o único humano vivendo na selva”. Eu trocaria a minha vida de garota da cidade -relativamente- grande pela vida do Mowgli sem nem pensar duas vezes. Gente, ele tem irmãos lobos. O quão legal é isso?

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