Quando havia lobos – Charlotte McConaghy ?>

Quando havia lobos – Charlotte McConaghy

Um dia já houve lobos nas Terras Altas da Escócia, mas graças a caçadas sistemáticas promovidas por fazendeiros ao longo dos séculos, a espécie foi extinta. O impacto no ecossistema é claro: sem um predador, a natureza desmorona.

Por isso, Inti se muda para a Escócia com um grupo de biólogos e sua irmã gêmea Aggie, com a missão de reintroduzir catorze lobos à região. Fora os desafios naturais de adaptação dos animais, eles correm risco de serem mortos pelos fazendeiros escoceses, que não veem os benefícios de seus novos vizinhos comedores de ovelhas.

Mesmo assim, depois de um período de sucesso – e a possibilidade de um novo amor – a morte de um fazendeiro pode inflamar os ânimos e fazer todo o projeto ir por água abaixo. A não ser que Inti corra riscos para proteger a vida de seus amados animais no meio de uma guerra entre espécies.


Eu estava esperando ficar deprimida com Quando havia lobos por causa de lobos morrendo e pessoas ignorantes. Eu achava que ele focaria apenas na questão ambiental. Que grande surpresa descobrir o quanto ele foca nos relacionamentos entre os humanos! O livro ficou em 9º lugar no meu top 10 de 2024.

O conflito entre pesquisadores e fazendeiros é o mais agoniante. É claro que estou do lado dos lobos e quero que eles vivam, mas os fazendeiros têm medo, o medo causa raiva, e as brigas deles com a Inti são algumas das melhores cenas de tensão do livro.

O relacionamento de Inti e Duncan é muito bom e complexo. Eles se amam, eles se odeiam, eles não conseguem confiar um no outro e pensam que estão dormindo com um assassino. Eu gostei do romance, mas essa jornada é longa e cheia de altos e baixos.

Adorei o conceito da sinestesia espelho-toque. Acrescentou muito ao personagem da Inti e coloriu a narração com os breves momentos dela no corpo dos outros. Acho que serviu como boa explicação de por que ela tem tanto medo dos outros, e ao mesmo tempo tanta raiva de tudo (adoro mulheres raivosas).

Eu acho que às vezes a trama desacelera, mas foi muito interessante acompanhar o que aconteceu com Inti e Aggie no passado. Os flashbacks só criam mais dúvidas na nossa cabeça e dão suporte à discussão sobre abuso doméstico no livro. Eles mexem muito com a cabeça do leitor (e com a da Inti também) e nos fazem pensar se a nossa narradora é realmente confiável. Você fica atento a todo momento.

A simbologia de Quando havia lobos fica mais evidente no final e traz mais magia a essa história. Podemos pensar muito sobre o que o relacionamento da Inti com os lobos diz sobre o relacionamento dela com humanos, já que também há muitos paralelos entre ela e suas lobas, Dez e Ash. O final tem algumas das cenas mais bonitas que já li e ainda as estou mastigando.

Um livro rápido e agradável de ler que te deixa arrepiado. O leitor não tem paz em nenhum momento, principalmente com os assassinatos! Uma narração muito boa que me deixou curiosa sobre o outro livro da autora. Adoro livros com uma temática de ecocrítica, e esse é um dos perfeitos para ler de férias.

Se você gostou de Quando havia lobos, de Charlotte McConaghy, você vai gostar de:

Silvestre – Wagner William;

Tales From the Inner City – Shaun Tan;

The Animals in that Country – Laura Jean McKay.

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