
Babel – R. F. Kuang
O Real Instituto de Tradução, também conhecido como Babel, é o centro do conhecimento do mundo. Os estudantes da Universidade de Oxford que lá pesquisam são a nata da nata do estudo linguístico, especialistas nas barras de prata mágicas que fazem o império britânico andar.
Robin é levado para Oxford depois de um surto de cólera na sua cidade natal na China o deixar órfão. O professor Lovell, seu novo guardião, tem altas expectativas, e manda o jovem para estudar em Babel. Lá, ele conhece outras pessoas em situação parecida, nascidos em outros países e criados na Inglaterra, levados para aumentar o conhecimento (e o poder) do império.
Mas qual a ética de ajudar a Grã-Bretanha às custas da sua pátria? A expansão colonialista se intensifica graças ao trabalho de Babel. Qual o custo de se rebelar? E quão grande é a necessidade de violência?
Eu posso até ser mais uma voz no mar de elogios para Babel, mas que assim seja. Vejo este como um livro tão importante pela sua complexa discussão de temas como colonialismo e escravidão. Ele ter viralizado abre espaço para um público mais amplo discutir esses processos que nos afetam até hoje – afinal, nem tudo o que está no livro é ficção. Fiquei tão impactada que Babel (publicado no Brasil pela Intrínseca) ficou em 3º lugar no meu top 10 de 2024.
Este é o melhor livro da R. F. Kuang, de longe. Em Babel, a autora corrige muitos erros que ela cometeu na trilogia de A guerra da papoula. Ela tem poucos personagens, não enrola a história (usa muito bem os timeskips), e não é repetitiva. A escrita dela está bem afiada, então dá para ver que ela aprendeu bastante de um livro para o outro. Ainda que Babel seja denso e uma leitura relativamente lenta, não é cansativo. Você só precisa de bastante tempo para digerir tudo o que você lê.
Os personagens foram muito bem construídos, apesar de eu ter sentido uma distância maior entre eles e o leitor dessa vez. Não há muito do diálogo interno do Robin, o que é um pouco ruim quando ele discute as emoções com seus amigos, mas o leitor não tem a menor ideia do que ele estava pensando antes da cena. Letty é um símbolo do feminismo branco e me deixou com ódio (mas é o ponto). E achei a Victoire pouco desenvolvida, queria mais dela. Mas o relacionamento do grupo é bem complexo, ainda que o foco fique mais no Robin e no Ramy.
Achei o mundo e a história de Babel interessantes e muito bem pesquisados. Eu gostaria de ter visto um pouco mais das barras de prata no dia a dia dos personagens, porque esse aspecto mais fantástico não teve tanto destaque. Gostaria que tivesse ficado mais clara a importância das barras para o império. Esse é o primeiro dark academia que leio, e agora estou mais interessada nessa área.
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