Battle Royale – Koushun Takami ?>

Battle Royale – Koushun Takami

A República da Grande Ásia Oriental precisa manter sua população sob controle. Por isso o Programa foi criado. Nele, 42 alunos do 9º ano de alguma escola secundária do território são forçados a lutar entre si, e apenas um pode sobreviver. Um grupo de adolescentes da Escola Secundária Shiroiwa, no caminho para uma excursão, é sequestrado pelo seu próprio governo e levado para uma ilha. Uma bolsa com suprimentos e uma arma, regras rígidas e fim. Vão para o mato e matem uns aos outros.

Alguns estudantes estão mais do que dispostos a fazer qualquer coisa para sobreviver e voltar para casa. Outros ainda esperam que todos possam sair desse jogo perturbado. Ao longo dos dias, em meio a mortes brutais, alianças se fazem, amigos se traem e o governo garante que tudo siga como o planejado.


Eu não tinha muitas expectativas para Battle Royale. Depois dele mofar na minha TBR desde que o comprei por 10 reais na Bienal de 2022, decidi dar uma chance. Felizmente, a experiência foi ótima. Por estar lendo o livro físico, pude fazer várias anotações, principalmente na lista de personagens para ter um guia de quem era quem. Com 42 alunos na história, chequei MUITO essa lista. Algo que não fiz e que gostaria de ter feito é um guia com todas as mortes em ordem, com quem matou quem e como aconteceu.

Battle Royale é a história que inspirou Jogos Vorazes, virou filme e mangá. O livro é uma bomba de ação e mortes gráficas, muitas que foram mais legais de acompanhar longe do narrador principal, o Shuya, do que com ele. Apesar do tamanho, você consegue ler 100 páginas em um dia sem nem perceber – um daqueles no qual você vai dormir pensando e acorda ansiosa pra ler. Acho que seu descendente mais famoso tem uma crítica social muito mais bem-feita, melhor pensada, e eficaz, já que Battle Royale critica vagamente um fascismo japonês genérico, que só me parece tão presente na vida das personagens porque elas estão dentro desse jogo doente. Pra mim, o maior problema com essa sociedade foi serem tão anti-EUA, proibindo até o rock, mas as crianças continuam tendo aula de inglês na escola. As críticas são bem superficiais, mas o foco do livro está mesmo na violência e nas descrições minuciosas dos ferimentos mortais dos alunos.

Temos que parabenizar o autor por conseguir escrever tantos personagens com personalidades bem distintas e definidas. Alguns aparecem por poucas páginas, mas passamos tempo o suficiente para entender quem são. Há um foco significativo na psique dos alunos. Sinceramente, as partes mais divertidas foram quando acompanhávamos personagens menores (o que não inclui o Shinji, porque achei os capítulos dele um saco). Claro que nem tudo são flores – Shuya é meio sem-sal, moralista apenas quando é necessário pra trama, já que ele tem que ser o herói. O fato de todas as meninas da turma gostarem dele quase me deixou maluca de raiva. A Noriko sofre de ser a personagem feminina em um trio com dois homens, como vemos em tantos animes – quase nenhuma fala, com uma personalidade reduzida a ser legal. Ainda assim, o que mais me incomodou foi a invencibilidade do Kazuo, que não sofria nem mesmo um arranhão, o que seria IMPOSSÍVEL nas situações em que ele estava. Esse Kazuo ex machina foi aproveitado como ferramenta para a narrativa, mas sem ter sido explorado além da sua definição de psicopata. Não termos tido nem um monólogo dele no final foi criminoso.

O maior crime desta edição foi a falta de um revisor atento. O texto tem muitos erros gramaticais e léxicos que deveriam ter sido corrigidos, fora algumas expressões que me pareceu que o tradutor usou a edição em inglês de referência e poderiam ter opções melhores. Além disso, não há uma adequação de idade nas falas, então os adolescentes falam com formalidade excessiva e usam palavras grandes demais no meio de tiroteios. Agora, se isso é um problema da tradução ou do autor, não sei e nunca saberei, porque não falo japonês.

Recomendo o livro para quem quiser uma leitura rápida para desligar o cérebro um pouquinho. Ele peca por não ter uma crítica muito profunda, mas acho que o foco do autor está na carnificina, que é tão bem escrita que fica claro que houve muita pesquisa. As mortes não são repetitivas, o que também é essencial. Foi uma leitura diferente do meu normal, mas que me agradou muito!

Se você gostou de Battle Royale, de Koushun Takami, você vai gostar de:

Saboroso cadáver – Agustina Bazterrica;

Earthlings – Sayaka Murata;

1984 – George Orwell.

Comments are closed.