Moon Witch, Spider King – Marlon James ?>

Moon Witch, Spider King – Marlon James

Todos já conhecem a Bruxa Sogolon e seu papel na busca por uma criança perdida. Dessa vez, é ela quem vai contar sua história. Não só sobre o menino, mas tudo sobre os seus 177 anos de vida. Sua vida em um bordel, como descobriu sua magia quando criança, como foi parar na corte de um rei. Amores, família, e uma vingança pessoal contra a mágica criatura Aesi, que semeia a desgraça por onde passa.

Sogolon é uma força do ódio. Com lutas clandestinas, ela treina seu corpo e sua magia. Enquanto houver desgraça, ela continuará lutando.


Moon Witch, Spider King alugou um triplex na minha cabeça de um jeito que eu quis reler assim que acabei o livro. Esse é com certeza um dos melhores livros que li no ano e solidificou Marlon James como um dos meus autores preferidos. Ele não é um livro perfeito, mas é extremamente envolvente e muito bem construído, planejado, cuidadosamente pensado. Esse é o segundo livro da trilogia The Dark Star e conseguiu superar o primeiro.

Por um acaso, achei essa edição LINDA na livraria Topping & Company em Edimburgo (uma das minhas livrarias preferidas). Além do miolo ser lindo e ter fitilho assim como o primeiro volume da série, o bonito está autografado. Esse é uma joia da minha coleção!

Vamos tirar isso logo do caminho: Moon Witch, Spider King tenta muito ser uma continuação, mas seria melhor como um spin off. Afinal, a maioria dele se passa antes dos eventos do primeiro livro, Leopardo negro, lobo vermelho (publicado pela Intrínseca). O livro é dividido em cinco partes, mas as duas primeiras são as mais fortes. A partir da parte 3, a leitura fica mais lenta e menos emocionante. A parte 4, que conta a história do primeiro livro de outro ponto de vista, foi bem fraca por eu ter lido o outro há quatro anos (e eu tinha me esquecido de como o Tracker é CHATO). A força desse livro está na história da Sogolon.

Moon Witch, Spider King não é para todo mundo (e não acho que será publicado no Brasil, já que o primeiro não pareceu fazer muito sucesso no país). Ele é violento de todas as maneiras possíveis, e a violência contra a mulher é tão normalizada quanto nos livros do Martin. Ele não é para leitores com inglês iniciante, utilizando uma linguagem super oralizada baseada em vernáculos africanos ou jamaicanos (Marlon James é da Jamaica). Muitas vezes, tive que reler trechos ou me perdia tanto no som do texto que só notava que não sabia o que estava acontecendo depois de meia página. Essa linguagem traz uma originalidade incrível ao texto, mas ele não é para os fracos.

Eu amei a Sogolon. Enquanto o primeiro livro é EXTREMAMENTE machista (muito graças ao Tracker), esse reflete muito sobre as mulheres desse mundo que o Marlon James criou. Sogolon é uma anti-heroína vingadora, vítima de poderes maiores do que ela e pronta para vê-los queimar. E o Aesi é um ótimo vilão, junto com todos os outros personagens da corte.

As partes 1 e 2 da história são as mais fortes, sem sombra de dúvidas. Adoro a dinâmica da Sogolon com os outros personagens, principalmente com a família dela. Essas partes também me lembram um pouco de GOT, por girarem muito em torno da corte. Elas explicam muito do passado da história do primeiro livro e são muito mais interessantes. Esse livro dá muito contexto importante para Leopardo negro, lobo vermelho, então não esperem 4 anos para lê-lo, como eu. A criação de Dolingo, então, eu adorei.

Infelizmente, acho que o autor cometeu um erro fatal na sua história depois disso. Vejam bem, eu adoro histórias de personagens imortais. Acho que podemos ver muita coisa sobre a natureza humana através dos olhos deles. E muito da carga emocional que eles trazem vem de todas as emoções e memórias das quais esses imortais são os últimos guardiões (olá, Frieren).

Então quando Marlon James faz Sogolon perder as memórias por motivo nenhum e nunca recuperá-las de fato, isso se perde.

A carga emocional das ações da personagem enfraquece, porque ela só age porque o autor precisa que ela aja. Por que ela foi atingida pelo poder do Aesi, sendo que ela sempre o bloqueava? Não existe uma razão na trama para ela perder as memórias desse jeito. Tudo o que ela sabe depois é o que contaram para ela, o que é, no mínimo, decepcionante. Essa foi uma falha crítica e sem sentido na história (que me deixa revoltada, caso você ainda não tenha percebido) e não acho que tenha sido a única vez que a Sogolon sofre por motivo nenhum – às vezes, o sofrimento dela não desenvolve nem sua construção nem a trama, é um pouco gratuito.

Eu não sei o que esperar do último livro, já que eu ficaria feliz em aceitar o final do segundo como um final aberto (assim como eu já aceitara o final do primeiro como um final aberto – talvez por isso meu cérebro tenha deletado a história inteira). Eu realmente achava que a Sogolon, para concluir o seu caminho, mataria o Aesi de vez, mas é muito mais complexo do que isso. Não consigo não amar esse livro que me encantou tanto, mas não consigo dizer o que se encaminhará para o final dessa história, o que me incomoda. Mas se tiver a Sogolon, tudo bem.

Se você gostou de Moon Witch, Spider King, de Marlon James, você vai gostar de:

Leopardo negro, lobo vermelho – Marlon James;

A Day of Fallen Night – Samantha Shannon;

His Dark Materials – Philip Pullman.

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