
Migritude – Shailja Patel
Migritude é o livro mais obscuro que já li. Esta resenha está aqui porque o livro está em 10º lugar no meu top 10 de 2024, mas como é praticamente impossível acessar o texto (pelo menos por enquanto), sinto informá-los que vocês vão ficar na vontade de ler o livro.
Vejam bem: eu conheci Migritude em uma aula de world literature na faculdade. A livraria, que sempre tem várias cópias de um livro que vamos ler em uma matéria para suprir a demanda de uma centena de alunos de inglês, tinha três cópias do livro. Três. Para um total aproximado de 30 alunos da matéria ofertada em dois semestres. Se você acha que vai conseguir comprar online, baixar um ebook, até mesmo piratear o livro, não se engane. Ele não existe em lugar nenhum.
Shailja Patel criou uma obra única neste livro. Baseado em sua peça solo, ele mistura ensaios e poemas que discutem a vivência do imigrante, focando majoritariamente na experiência da sua família ao emigrar da Índia para o Quênia, e depois o seu próprio movimento para a Inglaterra e para os Estados Unidos. Migritude fala sobre negritude e identidade queer, mas o maior destaque é a identidade da autora como africana de descendência asiática e o sentimento de pertencer a duas culturas, mas não se encaixar em lugar nenhum. Apesar do livro ter sido publicado em 2010, há quinze anos atrás, o ativismo de Patel ressoa muito ainda nos dias de hoje. Com as políticas aversas à imigração que muitos países têm adotado, o dolorido texto decolonial de Migritude conseguiu manter sua relevância – ainda que não tenha sobrevivido à foice do mercado mundial.
Eu, que não sou fã de poesia, fiquei encantada pela experimentação com a forma do texto. Vários dos poemas são mais prosaicos, e a sensação que passa é que todos foram pensados para serem lidos em voz alta – como eram originalmente uma peça, faz sentido. Assim, o texto é muito único, mas ainda consegue agradar um público amplo. Além disso, você fica tão imerso no ativismo da autora que esquece de todo o resto.
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