O Decamerão – Giovanni Boccaccio ?>

O Decamerão – Giovanni Boccaccio

Se você quer começar a ler literatura medieval, eu vou te sugerir O Decamerão. Você pode pensar, “ah, mas puxa, Bea, literatura medieval deve ser mó chato, é só um filósofo sem graça falando sobre religião.”

Deixe eu te apresentar a O Decamerão, o primeiro romance da história da literatura ocidental (vamos nos lembrar que As Mil e Uma Noites é mais antigo). No livro acompanhamos 10 amigos que fogem da epidemia de Peste Negra que assolou a Europa no século XIV. Quarentenados em um castelo próximo de Florença, os jovens decidem passar o tempo contando histórias – um tema por dia, dez histórias por dia, ao longo de dez dias. Boccaccio começou a escrever o livro em 1348 e só terminou em 1353, porque reunir 100 histórias dessas dá um trabalhão.

Sim, O Decamerão é escrito em prosa, e eu não o achei difícil. Acho que a tradução também fez um ótimo trabalho em torná-lo um texto acessível para o leitor curioso. Claro, é um livro imenso e que pode se tornar, por vezes, tedioso ou repetitivo. Minha estratégia é lê-lo em doses homeopáticas. Eu comecei a leitura tentando ler um tema por dia (10 histórias). Quando vi que era demais, baixei pra 5. Quando até isso começou a me dar ressaca, lá pelo meio do segundo volume, baixei para 2. Aí, deu boa.

E agora que falei que são dois volumes, vamos à edição, que eu estava me roendo de falar: Nova Fronteira, novo amor da minha vida. Existe uma edição mais maravilhosa do que essa? A resposta é não. Dois volumes em um box, pelo qual eu consegui um preço bom na Amazon. Como já mencionado, eu gostei bastante da tradução, e o livro tem várias notas do editor/tradutor pra orientar (como nota de rodapé, não no final do texto, graças a Deus). Pelas avaliações da Amazon, eu sei que alguns boxes estavam com problemas de impressão, mas imagino que seja fácil de trocar (como isso foi há algum tempo, não acho que esses exemplares ainda estejam em circulação. Eu não tive problemas quando comprei o meu, em 2021). Eu achei ótimo terem dividido o texto em dois volumes em um box, porque é bem mais fácil de manejar. Meu único problema foi a fragilidade das capas duras. O meu primeiro volume caiu no chão uma vez, e a capa rasgou e se separou quase completamente da lombada. Não dá pra ver na foto que eu tirei, mas colei o bonito com fita durex (deu boa). Ainda assim, fiquei bem chateada. Eu não entendo muito de capas duras, mas acho que, ou o papel que envolve o papelão é muito frágil, ou os papelões da capa e da lombada tinham que ser mais próximos um do outro.

A Nova Fronteira, inclusive, fez uma mini edição das “10 melhores histórias”, porque o livro ficou bem popular em 2020, porque estávamos na mesma situação de quarentena dos personagens (e, como eles, só queríamos nos distrair dos horrores do lado de fora). Eu não vejo lá muita razão pra comprar o livro, a não ser que você esteja muito assustado com o tamanho desse nenê.

Mas agora, voltando ao seu pensamento original: “literatura medieval é chata, só religião e filosofia”.

Gente.

Quando eu coloquei O Decamerão na minha lista de “20 livros antes dos 20”, eu não esperava que teria tanta história sobre sexo e cocô. Claro, eu conheci o livro através de um curso de Humanidades Médicas do professor Áureo Lustosa que fiz em 2020, então eu já tinha uma ideia do que esperar. Sinceramente, pode ser que todo o projeto tenha saído da minha vontade de ler tanto Decamerão quando Dom Quixote por causa do Áureo (lambeção de botas à parte, vão conhecer o Literatura Viral).

De qualquer jeito. O Decamerão tem histórias sobre religião, sexo, cocô (pensa numa galera fascinada com o cu), amor, viagens, traição (mais que fascinados pelo cu, a galera da Idade Média é obcecada com chifre). Como eu já disse, muitas vezes as coisas ficam repetitivas, mas pode ter certeza que você vai achar histórias que te agradam lá dentro. Algumas delas, inclusive, podem ter sido reais, e Boccaccio as registrou pra posteridade mesmo (ainda que, talvez, com algumas alterações).

O Decamerão é o clássico dos clássicos, uma janela a um período histórico ao qual somos muito equivocados, porque nossas aulas de história estão desatualizadas. É uma boa leitura homeopática, e eu tenho certeza de que você vai se divertir.

Se você gostou de O Decamerão, de Giovanni Boccaccio, você vai gostar de:

Dom Quixote – Miguel de Cervantes;

A Rainha do Ignoto – Emília Freitas;

Terra Papagalli – José Roberto Torero & Marcus Aurelius Pimenta.

Comments are closed.