O castelo animado – Diana Wynne Jones ?>

O castelo animado – Diana Wynne Jones

Sophie é a irmã Hatter que vai herdar a chapelaria da família. Ela trabalha o dia todo e se torna cada vez mais reclusa, desde que as outras irmãs se mudaram para trabalhar. A jovem se sente ainda mais excluída durante uma festa na cidade, em que ela vê uma das irmãs prosperando, e tudo o que ela pode pensar é em voltar para seus chapéus.

Um dia, durante o trabalho, Sophie é amaldiçoada pela terrível Bruxa das Terras Desoladas e se torna uma senhora de 90 anos. Querendo evitar que suas amadas irmãs a vejam no estado deplorável, Sophie sai da cidade e acaba diante do castelo do Mago Howl, que é famoso por devorar os corações de belas jovens. Ela convence Howl a deixá-la trabalhar, enquanto busca um jeito de quebrar sua maldição.

Sophie começa uma grande arrumação no castelo, impactando as vidas de Howl, Calcifer, o demônio do fogo, e Michael, o aprendiz de Howl. Mas ela não é a única amaldiçoada ali, e a sombra da Bruxa das Terras Desoladas  está sempre por perto.


O castelo animado é o primeiro livro de uma trilogia, e foi a obra que baseou o famoso filme do Studio Ghibli (disponível na Netflix) de mesmo nome. Eu vi o filme antes de saber que era baseado em um livro, e a animação se tornou uma das minhas preferidas do estúdio (Princesa Mononoke ainda mantém seu forte primeiro lugar).

A Galera aprendeu seu erro com boxes passados. Esse box é de uma qualidade inegável, firme e de bom tamanho. O investimento nas ilustrações se provou um acerto, porque tanto as capas, quanto o box, como os interiores são lindos, e capturaram muito bem a essência da história. Eu gostei que eles apostaram em uma ilustradora nacional, a Isadora Zeferino, e espero que eles continuem com essa estratégia para livros futuros. Mas, como nada é perfeito, é claro que a editora decepcionou na área da revisão. Há erros grotescos de digitação ao longo dos três livros (o pior deles é um “degra1us”), o que é uma tristeza de presenciar em uma produção tão bonita quanto essa. Fora a nota de rodapé de 1/3 de página em uma cena em que duas personagens são descritas de maneira gordofóbica. Na nota, a editora explica o óbvio para um leitor com o mínimo de experiência, e dá uma de professora de português (ou talvez de sociologia), explicando que a cena foi gordofóbica porque o livro foi escrito em 1990, e na época a gente não era tão “culturalmente evoluído” como somos hoje (somos mesmo?). Como se os leitores de hoje em dia não soubessem ler livros dentro do contexto em que eles foram escritos. Esse jeito de tratar os leitores como um bando de imbecis da Galera me cansa e me irrita, e falei um monte disso nos meus stories.

A escrita da Dianna Wynne Jones me surpreendeu muito. É super fluida, e bem madura para o que se esperaria de um livro infantil. Agora, o nível da técnica de contação de histórias que ela apresentou foi surpreendente. Ela apresenta elementos que parecem desimportantes no começo do livro, mas que acabam sendo vitais no final, e ela amarra pontas que você nem sabia que estavam soltas com maestria.

Eu amo os personagens dessa trilogia. Quer dizer, quase todos. Os personagens de O castelo animado são ótimos, e Jace Herondale foi baseado no Mago Howl e não aceito nenhuma explicação diferente. A personalidade convencida dele é incrível. Sophie é ótima. As irmãs de Sophie são personagens que quase não apareceram no filme, e eu amei tê-las ali. Os personagens de A casa dos muitos caminhos são incríveis também, apesar de Charmain me irritar em algumas situações (mas ainda consegui amar o fato de que ela não sabe nem lavar um talher). Meu problema real foi com O castelo no ar, que teve personagens super estereotipados e nem um pouco cativantes. Cada livro segue a história de personagens diferentes, mas as aparições de Howl e Sophie nos outros dois livros me deixaram muito feliz, porque eles são os melhores personagens, do melhor livro da trilogia.

O castelo animado é uma fantasia lúdica e muito refrescante. Para os amantes de contos de fadas e cottagecore, é diversão garantida. A magia é refrescante, porque não é cheia de regras fixas, como estamos acostumados em ver em outras obras fantásticas. Os livros são, de fato, focados a uma audiência mais jovem, mas acho que só mais velhos podemos perceber todo o simbolismo que permeia a história. Dos três livros, o primeiro livro é o melhor. O segundo me decepcionou muito, porque a Diana Wynne Jones sofreu de um caso de “pessoa branca escrevendo um livro inteiro sobre uma cultura minoritária que ela não conhece muito bem”. Mas era os anos 90, e tenho certeza de que hoje em dia essa ideia teria sido revista. Em primeiro lugar, eu me senti na animação da Disney de Aladim. A história foi parecida demais para o meu gosto, e eu nem vi esse filme! Os personagens foram muito estereotipados, e acho que, de modo geral, a autora errou o alvo com o livro. O terceiro volta com a vibe cottagecore, ainda que em um reino diferente, e foi um fechamento legal para a trilogia.

De modo geral, acho que amantes do filme vão se apaixonar pelos livros, escritos com tanto detalhe e carinho que fazem você voltar a ser criança. E amantes dos livros devem sim checar a linda animação que, apesar de não engolfar totalmente a história do primeiro livro, apresenta um visual lindo e foca um pouco mais no desenvolvimento do romance entre Howl e Sophie.

Se você gostou de O castelo animado, de Diana Wynne Jones, você vai gostar de:

The Binding – Bridget Collins;

Alice – Lewis Carroll;

Terra de histórias – Chris Colfer.

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