Normal People – Sally Rooney
Marianne é a excluída da escola, a garota rica que não tem amigos e não tem interesse em fazê-los. E Connell é o astro, cheio de amigos, mas com pouco dinheiro. Sua mãe trabalha como diarista na casa da família de Marianne. Por causa disso, os dois se veem toda semana. E o relacionamento dos dois, inicialmente apenas de conhecidos, se torna algo mais.
Connell insiste em esconder tudo, por medo de sua reputação. E Marianne não liga o suficiente para se importar. E assim eles passam os meses, amando escondidos.
Mas a vida não é um conto de fadas, e o romance dos dois não é uma simples certeza. Imersos em suas realidades diferentes e conscientes disso, Connell e Marianne crescem e vão para o mundo. Mutáveis como são as situações de sua vida, também seu relacionamento se torna inconstante. E assim eles passam os anos, machucando e sendo machucados, amando e sendo amados, descobrindo o que é ser adulto em um mundo sem paciência com aqueles que não se adaptam.
Eu encontrei Normal People numa pequenina barraca numa feira de final de semana. A Sally Rooney lançou livro novo por aqui faz pouco tempo, então ela tá em todo lugar. Além do mais, sendo ela irlandesa, todo mundo ama ela por aqui e as livrarias panfletam mesmo. Então vi o livro usado e resolvi dar uma chance. O livro foi lançado como Pessoas normais no Brasil pela Cia. das Letras, e tem uma série original da Hulu.
E que chance! A escrita da Sally Rooney é diferente de muito que já li. Ela é fluída e se aproveita de timeskips pra mostrar ao leitor apenas o necessário para a história. Ainda assim, ela nos informa sobre o que aconteceu com Connell e Marianne nesse período. Algo que sei que pode incomodar algumas pessoas é como ela não marca diálogo – é tudo escrito em parágrafos normais. Eu vi uma ou outra pessoa falando de que a autora não funciona pra eles por causa disso, mas eu, pessoalmente, adorei.
Os personagens são uma coisa meio doida. O meu relacionamento com eles foi de amor e ódio do começo ao fim, porque eles comeriam erros absurdos em diferentes momentos da vida. Ainda assim, fiquei super investida no romance e na vida dos dois, e fiquei acordada até as 5 da manhã pra terminar o livro. Connell e Marianne são complexos, cada um com seus desafios, o que torna o romance entre eles tão, tão real, que você até esquece que Normal People é ficção. Ou melhor, você não consegue deixar de esquecer que é ficção, porque a técnica da autora é evidente e se mostra a cada página.
O livro, em si (até falamos disso na universidade), não tem muita história. Toda a questão é o relacionamento dos dois e o crescimento deles a uma vida adulta. Eu não acho que seja um livro pra todo mundo. Normal People é complexo, que pode ser aproveitado por lazer, mas cujo ponto alto é a técnica. Além do mais, a autora te envolve de um jeito nas páginas que você pode sair se sentindo mal. Eu sou casca-grossa, mas quando o Connell começou a entrar em depressão e descrever o que ele estava sentindo, eu comecei a me sentir mal. E eu não me “sinto mal”. Fazia muito tempo que um livro não me pegava desse jeito, e agora já sei que quero ler tudo e mais alguma coisa dessa mulher.
Se você gostou de Normal People, de Sally Rooney, você vai gostar de:
They Both Die at the End – Adam Silvera;
A casa dos espíritos – Isabel Allende;
Sobre os ossos dos mortos – Olga Tokarczuk.
;)
