Nêmesis – Philip Roth ?>

Nêmesis – Philip Roth

Eugene Cantor é professor de educação física e inspetor de pátio de uma escola judaica em Newark, Estados Unidos. O verão de 1944 está quente, mas as crianças continuam a sair de casa, brincando e aproveitando as férias. Mas um inimigo mortal está à espreita. Os surtos de poliomelite ocorrem quando está quente. A poliomelite é uma doença assustadora, que afeta principalmente crianças. Quando não mata, traz terríveis consequências aos afligidos, como problemas respiratórios crônicos e paralisia nos membros.

Incapaz de lutar na guerra por conta de sua forte miopia, Bucky Cantor luta contra um outro inimigo, incurável. Tudo por causa, dizem os boatos, de um bando de adolescentes italianos que levaram o vírus do seu bairro infestado para o tranquilo bairro judeu, cuspindo no chão do pátio do qual Bucky é inspetor.

Conforme a doença se alastra e as crianças vão ficando doentes, Bucky se preocupa com o fato de que, talvez, ele seria também responsável por colocar suas crianças em contato com a pólio, além de temer pela sua carreira atlética, que acabará assim que necessitar de um pulmão de aço. Se sentindo culpado e traído por Deus, Bucky foge da pólio, na direção das montanhas e da namorada, e vai trabalhar no mesmo acampamento de verão que ela, perto de crianças saudáveis.


Eu estava muito animada para ler Nêmesis. Gostei muito da sinopse e fiquei feliz, porque não estava lendo livros que me agradaram de monte.

Não se enganem: a escrita do Philip Roth é muito tranquila! Pode ser o meu eu traumatizado por Morte em Veneza falando, mas eu acho. O livro é de 2010, e o autor escreve muito bem. Apesar de eu ter me demorado em algumas partes, de modo geral, a escrita é fluida. Existem alguns trechos mais introspectivos, em que Bucky questiona Deus por tudo o que está acontecendo na história, mas eles não são muito chatos – o personagem é bem desenvolvido, então seus questionamentos são interessantes para o leitor. Li algumas coisas recentemente que era muito questionamento filosófico e pouco desenvolvimento do personagem, o que torna esses momentos introspectivos pouco interessantes. Ainda bem que Nêmesis não é assim.

Porque o Philip Roth sabe o que está fazendo, sofremos junto com o personagem principal em todas as suas angústias. Bucky é um personagem particularmente angustiado, mas nada é infundado. O personagem passa bem seus sentimentos ao leitor, o que torna Nêmesis um livro cheio de sofrência. Não posso dizer que Bucky não exagera – isso fica cada vez mais evidente conforme o final se aproxima – mas conseguimos entender seu sofrimento. A namorada, Márcia, ajuda bastante nesse aspecto, porque ela sabe que o Bucky está exagerando e fala na cara dura.

A história de Nêmesis é mais atual do que eu esperava. A reação das pessoas à pólio é muito similar a o que está acontecendo hoje com o Corona. Isso me deixou muito interessada, até porque a doença em si é interessante. O livro retrata muitas coisas da época que não são tão diferentes do que vemos hoje, com todo o desespero e preconceito, ainda que tenhamos mais tecnologia hoje em dia.

Nêmesis é um livro que pode passar batido por muitos leitores, mas eu recomendo a leitura. Você pode se surpreender.

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