A odisseia de Penélope – Margaret Atwood ?>

A odisseia de Penélope – Margaret Atwood

O marido de Penélope de tornou famoso por sua longa jornada – Odisseu foi lutar na Guerra de Troia e passou metade deles tentando voltar para casa depois que foi amaldiçoado pelo deus do mar, Poseidon. Neste meio-tempo, Penélope permaneceu na pequena ilha de Ítaca, responsável por criar seu filho pequeno, Telêmaco, e gerenciar a ilha, enquanto é assediada por dezenas de pretendentes que desejam se casar com a prima da bela Helena de Troia e assumir o lugar de rei de Ítaca.

E foi tamanha a surpresa de todos quando Odisseu voltou, depois de 20 anos desaparecido, e logo matou os pretendentes de Penélope, que drenavam seus recursos, assim como 12 criadas de sua esposa.

Diretamente do mundo dos mortos, Penélope se levanta para contar a sua história – o que realmente aconteceu durante os 20 anos que ficou separada do marido? Já as criadas se levantam para condenar a todos que as usaram e injustiçaram – por que foram enforcadas?

Penélope traz um olhar sarcástico e feminista sobre a Odisseia, obra tão famosa, conhecida por gerações. Esquecida por séculos, ela vai se certificar que, desta vez, sua voz será ouvida e que sua história será contada.


Eu nunca tinha lido um livro como esse. Muitos podem subestimar A odisseia de Penélope por ser um livro curto, de apenas 127 páginas. Este é o seu maior erro. Margaret Atwood construiu uma obra prima da técnica de escrita.

A capa é linda e, ainda que não tenha a típica sombra de um rosto de mulher, dá para perceber que foi o mesmo artista que fez. O que me incomodou foi o tamanho da letra. A odisseia de Penélope até que é um livro comprido, mas as letras são simplesmente minúsculas, o que incomodou a leitura. Sinceramente, acho que o tradutor perdeu uma oportunidade com o título da obra. O original em inglês é The Penelopiad, um trocadilho com Penelope Illiad (a Íliada, o poema épico que conta a história da Guerra de Troia). Eu teria achado muito engraçado um trocadilho similar no português, como Penelopíada ou Penelopisseia, mas são esses os desafios da tradução.

Eu já tinha gostado da escrita da Margaret Atwood lá em Oryx & Crake, e fiquei muito feliz de voltar para ela. Mas esse livro está num patamar completamente diferente dos demais. A autora alterna entre a prosa (ponto de vista da Penélope) e a poesia (as 12 escravas compõem o Coro, como em peças épicas). Com isso, temos vários pontos de vista diferentes na narrativa, que colaboram para a mensagem do livro – a história sempre tem mais de um ponto de vista. A Atwood pesquisou bastante para escrever esse livro, e isso é perceptível ao longo da narrativa.

Penélope é uma personagem muito interessante. Sarcástica, com veneno e críticas direcionados ao seu mundo apenas porque acompanhou o mundo mudando nos Campos Elísios. Como a história é muito focada na Penélope em si, não temos grandes informações de outras personagens (até o Coro tem espaço reduzido, mas deixa sua marca mesmo com essa limitação). Como pode-se imaginar, a trama está cheia de chernoboys.

Por que estou tão louca com esse livro, você pode se perguntar. Bem, eu li a Odisseia original 4 anos atrás. Um poema épico de 24 cantos para a escola. Fiquei traumatizada (é bem lento), e é de consenso geral de que o Odisseu é um babaca completo. Ler essa releitura tão fiel ao texto original, que ao mesmo tempo traz grandes discussões sobre ele, foi uma experiência incrível, e gostaria que tivéssemos lido A odisseia de Penélope na escola também, para continuar a discussão.

Se você gostou de A odisseia de Penélope, você vai gostar de:

Odisseia, de Homero;

A (r)evolução das mulheres, de Mindy McGinnis;

Os Lusíadas, de Luís de Camões.

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